sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Futebol e manias


Lia nos jornais mais uma dessas intermináveis, além de inúteis discussões sobre o tamanho das torcidas dos times de futebol brasileiros. Dessa vez a discussão se dava devido a um comentário do Ronaldo Fenômeno em um programa esportivo. Ele dizia ter dúvidas sobre a “verdade incontestável”, por estar suportada por pesquisas de institutos sérios, de que a torcida do Flamengo é a maior do Brasil. Para o Ronaldo, a do Corinthians seria maior.
O problema dessas pesquisas é que até hoje nunca vi uma que, antes de tudo, definisse o que vem a ser o torcedor de futebol.
Sim, meu ponto é o seguinte, para se fazer uma pesquisa eleitoral, sabe-se que o eleitor é aquele cidadão com direito a voto, assim, o percentual de intenção de votos do candidato A é a soma das intenções de votos de todos os eleitores pesquisados que declararam o voto no candidato A. Simples assim, e no entanto, quantas vezes as pesquisas se mostram totalmente equivocadas após a apuração dos votos. Para a pesquisa de preferência de marca, a soma de todos os consumidores (compradores) da categoria de produtos pesquisados e que disseram preferir determinada marca ao comprar. Bem definido o critério, mas também sujeitas a erros.
Pois o que dizer sobre pesquisas de torcidas de futebol? Quem deve ser considerado torcedor de um clube? Todo aquele que ao ser perguntado para que time torce, responder Clube X ou Y? Já não é tão simples assim. Será esse torcedor, torcedor mesmo? E se não frequenta estádios? Bem, ele pode não morar na cidade de seu time e não é menos torcedor por isso. Certo, mas acompanha seu time pela TV? Não, não tem renda para a TV a cabo. Então sua condição econômica o faz menos torcedor? De fato, não.
Estão vendo como é complicado definir o verdadeiro torcedor por algum critério válido? Assim, que podemos dizer sobre a confiabilidade desses números?
Pois, acho que tenho a solução. O critério definitivo para se definir um torcedor de verdade.
O que realmente diferencia um torcedor de futebol do simpatizante, que definitivamente não deveria ser contabilizado.
E esse critério é a mania. Pois não há torcedor de verdade no mundo, que ao acompanhar seu time durante uma partida, não tenha certeza de que determinada mania, tique ou superstição tem a capacidade sobrenatural de ajudar o seu time.
Já vi de tudo, do tradicional traje da sorte; camisa, calça, roupa íntima ou qualquer peça sempre utilizada em todos os jogos, ou ainda o uso de determinados amuletos no pescoço ou nos bolsos. Já vi torcedores que não tomam banho antes dos jogos.
Na verdade, eu achava que já tinha visto tudo, até que entre as inúmeras razões apontadas por um torcedor para a derrota de seu time, ouvi a do saudoso Antenor, torcedor fanático da Ponte Preta, a macaca de Campinas. Mas essa, na verdade não tinha a ver com superstição, a questão era puramente técnica.
Foi há uns anos atrás, a Ponte Preta vivia uma fase brava, assistíamos no bar a mais um vexame da Macaca numa dessas televisões gigantes – a epidemia do Plasma e do LCD começava – então, lá pelos 40 minutos do segundo tempo, após o quinto gol do adversário e a décima pinga, o Antenor solta a pérola: “- Eu sabia, Mauricinho, não devíamos ter vindo a esse bar, não tem jeito, a Macaquinha não consegue achar seu jogo nessas televisões enormes!”
O Antenor era um torcedor de verdade!

Crônica do e 
conomista e consultor na área de Saúde Maurício Quintas Grimoni 

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