sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Amigos cada vez mais falsos



Quem já foi vítima de um falso amigo sabe muito bem o pesadelo que isso nos causa. O pior é que os falsos amigos estão por toda parte, em cada esquina. Por isso, todo cuidado é pouco! Além do mais, os falsos amigos gostam mesmo de se passar por melhores amigos, que é para a farsa durar bastante. Até mesmo entre irmãos a falsidade existe e aí, aparentar ser o que não é, torna-se inclusive perigoso.
Mas calma, não estamos falando das relações humanas em nosso trabalho, nosso lazer, nossa família e outras tantas mais, estamos falando dos heterossemânticos.
Os heterossemânticos ou falsos cognatos são pares de palavras de origem comum, ou seja, verdadeiros cognatos entre dois idiomas distintos, mas que sofreram evoluções semânticas distintas em seus significados e, por isso, interferem tanto no processo de comunicação entre os interlocutores dos dois idiomas.
A denominação falsos amigos não é científica, trata-se apenas de uma maneira irônica de denominar essas armadilhas que esses falsos aprontam! Eles podem estar presentes em vários idiomas, como por exemplo, entre: português x francês; português x inglês; português x alemão.
Essas palavras podem ser semelhantes ou até mesmo idênticas, tanto na grafia como na pronúncia. Um heterossemântico bem comum entre as línguas inglesa e portuguesa é a palavra actually, que a maioria traduziria como “atualmente”, mas, em inglês, é muito mais usada com o significado de “na verdade” ou “de fato”.
Entre a língua francesa e portuguesa podemos ver exemplos muito interessantes e até mesmo cômicos. O professor Gabriel Perissé lembra que a palavra crachá provém do francês crachat, cujo primeiro significado é “escarrada”, “cusparada”.
A confusão pode ficar ainda maior quanto maior é a semelhança entre os idiomas. O português que usamos hoje tem a mesma origem do espanhol (ou castelhano) que nossos “hermanos” usam ali nos países vizinhos. São línguas românicas que têm muito em comum. O espanhol é, com exceção do galego, a língua que tem mais afinidade com o português. Exemplos e confusões hilárias, até mesmo situações tragicômicas, como a de um aluno brasileiro, candidato a uma vaga em uma universidade espanhola, que protagonizou a seguinte situação:
– A senhora me perdoe, mas eu não falo espanhol. A senhora pode perguntar em espanhol, mas vou responder em português.
– De acuerdo. ¿Cómo se llama usted?
– Fulano de tal.
– ¿Vive usted aquí?
– Não, senhora.
– ¿ Está usted casado?
– Sim, senhora.
– ¿ Ha traído usted a su mujer?
E depois de uma breve pausa:
– Sim, senhora, muitas vezes.
É justamente a semelhança que atrapalha, e o risco de cometer gafes é cada vez maior! Não se engane ao dizer que compreende espanhol somente porque fala português.
(Artigo de Renata Moreno, professora de Espanhol e tradutora técnica jurídica e literária) 

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