terça-feira, 20 de maio de 2014

Como se trata a depressão?


A depressão tornou-se um fenômeno tão frequente no mundo moderno a ponto de ser considerada por alguns autores como reação normal dos tempos atuais, desde que não interfira nas nossas atividades cotidianas. Esse ponto de vista estatístico não leva em conta, porém, a gravidade do problema e as sensações que acompanham o indivíduo durante toda a vida, podendo interferir negativamente nos relacionamentos afetivos, sociais e profissionais, ensejando o desequilíbrio psicológico do indivíduo, de forma a conduzi-lo a uma vida insatisfatória e improdutiva.
Segundo o CID 10 (Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10, 1993), o indivíduo acometido por episódios depressivos usualmente sofre de humor deprimido; perda de interesse e prazer; energia reduzida levando a uma fatigabilidade aumentada e atividade diminuída; cansaço marcante após esforços leves; concentração e atenção reduzidas; ideias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do futuro; ideias ou atos autolesivos ou suicídio; sono perturbado; apetite diminuído.
O paciente, geralmente, tem consciência de seu estado e sofre com isso. Além de triste, o humor pode se mostrar irritável, exteriorizando-se por sentimentos de angústia, ansiedade, medo, insegurança, incapacidade parcial ou total de sentir alegria ou prazer. Do ponto de vista somático, a maior parte do deprimidos queixa-se de diminuição da libido, insônia, inapetência ou aumento do apetite.
Para alguns autores, o núcleo da depressão está estruturado por um certo tipo de ideia que o sujeito faz da impossibilidade de realização de um desejo em que alcançaria um ideal, e como não é possível, ele se sente fracassado, arruinado, inferior, culpado.
A depressão por perdas, conhecida como luto, é decorrente da sensação de perda, real ou fantasiada, de objetos bons e/ou reasseguradores da autoestima do indivíduo. Freud (1974), em Luto e Melancolia, elabora uma comparação entre o afeto normal do luto e a melancolia. Tanto no luto como na melancolia há uma variedade de fenômenos, dentre eles, o desânimo profundamente penoso, interrupção do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, bem como inibição às atividades em geral. No entanto, na melancolia, além desses fenômenos, encontra-se a diminuição dos sentimentos de autoestima, caracterizado por autorrecriminação, autodesvalorização e culpa, que podem levar ao delírio de autopunição.
Em linhas gerais, um tratamento antidepressivo pode ser do tipo medicamentoso ou não medicamentoso. O primeiro compreende os antidepressivos, sendo o segundo a psicoterapia, considerado básico, em qualquer caso clínico, a combinação dos mesmos como complementares. Portanto, enquanto o médico psiquiatra cuida da doença, o psicoterapeuta ocupa-se do doente ou, num outro sentido, do homem que sofre. Em termos práticos, o psicoterapeuta deve ajudar o paciente a identificar e desfazer a trama depressiva que vem construindo há muito tempo. O sujeito não se apercebe que, via de regra, escolhe a solução menos satisfatória, mais complicada, de forma a configurar a sua vida numa rede de vivências torturantes. Trata-se de um trabalho artesanal, o qual requer muita paciência e estritamente personalizado, com vista a auxiliar na remissão do episódio e, mais do que isto, encontrar um jeito melhor de funcionar.

Artigo do psicólogo Marco Túlio Silva de Oliveira

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