quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Tenho hérnia de disco lombar. Posso fazer musculação?


A hérnia de disco acomete normalmente pessoas entre 30 e 50 anos, o que não quer dizer que crianças, jovens e idosos estejam livres dela. Estudos radiológicos mostram que depois dos 50 anos, 30% da população mundial apresentam alguma forma assintomática desse tipo de afecção na coluna. As hérnias lombares são as mais comuns por ser região de sobrecarga do nosso corpo. Elas podem comprimir as raízes nervosas desencadeando dor irradiada por toda a extensão do nervo ciático.
Entre as vértebras da nossa coluna estão os discos intervertebrais, que são compostos de tecido de cartilagem e responsáveis por amortecer os impactos, evitando atritos. A discopatia mais comum é a degeneração dessas estruturas, caracterizada por redução da altura, deslocamento e rupturas periféricas que podem evoluir para o extravasamento do núcleo pulposo. O termo hérnia de disco costuma ser aplicado às degenerações mais avançadas. As discopatias degenerativas, de causa genética, geram instabilidades na coluna podendo provocar dores nas atividades diárias que podem ser agravadas por traumas, esforço repetitivo e má posturas da coluna.
Uma das intervenções mais importantes para melhorar os sintomas das dores por hérnia e prevenir a evolução ou novas crises é fortalecer os músculos paravertebrais lombares, melhorando assim a instabilidade da coluna. A musculação, academicamente conhecida como exercícios resistidos, é a forma mais segura e eficiente de fortalecer os músculos e deve fazer parte do programa de treino de pessoas que já apresentam ou tenham predisposição à problemas na coluna. Em geral, em três meses, 90% dos portadores dessas hérnias estão aptos para reassumir suas atividades rotineiras.
A recomendação é utilizar exercícios que estimulem de forma confortável os músculos paravertebrais lombares. Os cuidados devem ser com as flexões exageradas de tronco e de quadril e também com os movimentos de rotação da coluna porque tendem a agravar os sintomas ou desencadear novas crises. Inicialmente, recomendamos as remadas com pequeno movimento de extensão da coluna, e leg press ou agachamento, avaliando amplitudes que sejam confortáveis. Numa fase quase sem dor ou totalmente assintomático os exercícios de extensão lombar em máquina ou levantamento terra stiff, com peso livre podem ser experimentados.
A nossa experiência sugere que esses exercícios auxiliam de maneira eficiente o fortalecimento dos músculos lombares, mas em caso de dor, ou novas crises, devem ser retirados do programa de treino para avaliação. Os exercícios abdominais devem ser curtos, evitando flexão de tronco exagerada. Abdominais com rotação de tronco devem ser evitados.
Exercícios contínuos aeróbios, como as corridas, precisam ser evitados em fase de dor na coluna por gerar impactos nas vértebras e discos, agravando os sintomas. Ao retomar esses tipos de exercícios também é importante que isso ocorra de forma gradativa, aumentando sua frequência (tempo e dias) na medida em que a coluna for respondendo de forma positiva e assintomática, mantendo no programa o fortalecimento muscular.
Lembrando que é recomendável no acompanhamento de doenças e lesões a supervisão de um profissional especializado em treinamento resistido. 

Artigo da professora de Educação Física Sandra Nunes de Jesus, especialista em fisiologia do treinamento resistido na saúde, na doença e no envelhecimento pelo FMUSP. É coordenadora técnica do Instituto Biodelta.


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