Estamos vivendo tempos difíceis. Parece
até que o mundo virou de cabeça para baixo, e salve-se quem puder. Por outro
lado, as pessoas vivem uma ilusão e, de certa forma, buscam se proteger e criar
um mundo particular ao seu redor, que lhes garanta uma permanente sensação de
proteção e segurança.
Essa busca
refere-se, principalmente, àqueles que tentamos de todas as formas proteger e
cuidar, ou seja, os filhos, que, por uma extensão de nosso desejo, muitas vezes
tentamos salvaguardar de todo o perigo que possa ameaçá-los. Diferentemente da
época quando nós, pais, fomos adolescentes, hoje sabemos que muitos dos
cuidados que temos baseiam-se em experiências reais – o perigo existe, porém
ele não está fora das paredes que rodeiam as casas, condomínios, escolas, e
outros recintos onde muitas vezes se acredita estar protegido e fora do alcance
de qualquer possibilidade de risco.
O perigo,
muitas vezes, está dentro de casa, mais perto do que se imagina entre as quatro
paredes de um simples quarto. Qualquer pai ou familiar que conviva com um
adolescente sabe, ou pelo menos supõe, que seu mundo está centrado em seu
próprio quarto, local meio sagrado, às vezes místico, habitado por ele e mais
uma parafernália de aparelhos, que vão desde computador, games, som, TV,
celular, câmera independente e, muitas vezes, alguns compõem seu ambiente com
gaiolas com uma gama de bichinhos exóticos, que dividem ali com ele nada mais
nada menos que sua solidão ruidosa.
Quem não se
assustou com a notícia de um jovem garoto que num jogo online com outros
meninos jogou a partida final de sua vida. É angustiante pensar sobre isso,
mas, muito pior, é negar essa realidade cada vez mais comum nos dias de hoje.
A realidade
virtual veio para ficar. Seria uma hipocrisia achar que se pode acabar com ela.
Os pais devem estar atentos ao tempo que o filho fica em seu quarto envolvido
apenas com seu mundo virtual. Muitos jovens passam tantas horas em ambientes
fechados, que nem chegam a ver a luz do dia. Estar atento a esses aspectos é
tão importante quanto proporcionar condições de um ambiente seguro e
acolhedor.
Outro aspecto
que observamos é que muito do comportamento no adolescente é dotado de
atitudes onipotentes, que o leva a acreditar que a realidade que ele habita pode
acontecer e ser da maneira que ele deseja. A crença no pensamento mágico
domina suas ações, o que o faz acreditar ser possuidor de muitas vidas, que
numa condição patológica pode desencadear numa distorção da realidade em si.
Não se trata
de tarefa fácil, muitas vezes requer ajuda especializada, mas que, certamente,
possibilitará que a necessidade compulsiva no uso indiscriminado da realidade
virtual seja aos poucos preenchida pela capacidade do pensar e pelo
desenvolvimento de maiores possibilidades criativas para sua vida.
Artigo
da psicóloga e
psicanalista Samira Bana (CRP 06 8849).
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