Independentemente dos que são
contrários ao uso de flúor nos dentifrícios – pastas ou cremes usados para
escovar os dentes –, a maioria dos cirurgiões-dentistas defende a substância
sob alegação de que é um dos agentes preventivos mais viáveis contra a cárie
dentária.
Segundo o
cirurgião-dentistaJaime Aparecido Cury Cury, que é professor de Bioquímica e
Cariologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp), entre
vários agentes preventivos ou terapêuticos de sucesso que causaram impacto
positivo na saúde e na qualidade de vida das pessoas, talvez seja difícil
encontrar um que se assemelhe ao flúor. “Até mesmo pessoas com menor acesso ao
conhecimento científico sabem que o flúor protege os dentes das cáries. Por
outro lado, seu mecanismo de ação não é muitas vezes bem interpretado. Não
raro, encontramos descrições incorretas, como: fortalece os dentes, inibe a
produção de ácidos produzidos pelas bactérias da placa etc. Isso pode acabar
dificultando a adequada indicação desse íon tão importante no controle da
cárie, quer seja em crianças, adultos ou idosos”, diz ele.
Afinal, como o
flúor controla a cárie dental? De acordo com o especialista, o íon flúor
acelera a precipitação de minerais em meio contendo íons cálcio e fosfato
inorgânico – que estão presentes na saliva e na placa ou biofilme dental.
Assim, ao utilizar dentifrícios com flúor, toda perda mineral ocorrendo sob o
biofilme dental cariogênico tenderá a ser parcialmente revertida. Vale dizer
que parte dos minerais perdidos é reposta novamente na estrutura dental. Sendo
assim, o fluoreto diminui a desmineralização e ativa a remineralização do
esmalte e da dentina.
“A causa da
perda mineral no processo de cárie dental é a presença de um biofilme
cariogênico que produz ácidos quando exposto a carboidratos fermentáveis.
A presença do biofilme e sua exposição ao açúcar (principalmente à sacarose)
são fatores indispensáveis para o desenvolvimento de cárie. Embora o
flúor possa apresentar algum efeito antimicrobiano, diminuindo a produção de
ácidos por bactérias, ele tem pouco efeito sobre esses fatores. Por outro lado,
a presença do flúor no ambiente bucal é importante para reverter parte desses
minerais perdidos. Essa reversão parcial da perda mineral é extremamente
importante, já que reduz significativamente a velocidade de progressão das lesões
de cárie”, explica Cury.
Como não
existem pessoas “zero placa”, biofilmes sempre vão se formar na boca – sendo
especialmente cruéis para aqueles dentes mais negligenciados durante a
escovação. Daí a importância, segundo o cirurgião-dentista, de sempre usar
flúor nas pastas e cremes dentais. As lesões por cárie aparecem em indivíduos
de todas as idades, seja no esmalte, seja na superfície radicular exposta.
Portanto, a associação entre higiene bucal e flúor é a maneira mais racional de
controlar a cárie dental. Até mesmo 12 horas após a escovação, o biofilme terá
maior concentração de fluoreto do que o biofilme de indivíduos que não utilizam
pastas ou cremes dentais com flúor para escovar os dentes no mínimo duas vezes
por dia. Por outro lado, ressalta o profissional, lesões de cárie não são
provocadas pela falta de flúor, mas pela alta exposição diária a açúcares da
dieta, de tal forma que o segredo de ser ‘cárie zero’ está no equilíbrio entre
a escovação dental com dentifrício fluoretado e a restrição do consumo de
produtos açucarados – jamais excedendo seis vezes ao dia.
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