O melanoma é o mais agressivo e
mortal dos tumores de pele, pois tem grande capacidade de metástase e pode
espalhar-se, rapidamente, para outros órgãos do corpo. O melanoma origin-se a
partir dos melanócitos, células produtoras de melanina, pigmento que confere
cor à pele. Mais comum em adultos de pele clara, a neoplasia pode manifestar-se
mesmo em áreas do corpo não expostas ao sol ou em lesões pigmentadas
pré-existentes. Confira na entrevista com o dermatologista Mauro Enokihara
(CRM-SP 44.400), quais os fatores de risco, os sintomas e os tratamentos
indicados para esta doença.
Existem diferentes tipos de melanoma.
Como diferenciá-los?
A maioria
dos melanomas é do tipo extensivo superficial, manchas com cores diferentes
(heterocromia), bordas irregulares, tamanhos e formatos diversos, mais comuns
nos membros inferiores no sexo feminino e no tronco, no sexo masculino. A
doença tem esta apresentação, pois a disseminação é horizontal e geralmente se
origina de nevos pré-existentes, diferente da forma nodular que são lesões
sobrelevadas enegrecidas, que surgem sem pintas ou manchas anteriores.
Devemos ficar atentos a manchas acastanhadas ou enegrecidas que surjam nas
extremidades, como mãos, pés e subungueais, predominantemente em negros e
orientais. Todas estas formas são mais comuns em adultos jovens, em idosos que
se expuseram muito ao sol, principalmente na face. De evolução lenta temos
o melanoma lentigo maligno. Existe a apresentação sem pigmentação, os
melanomas amelanóticos, que não devem ser esquecidos e por esta dificuldade
diagnóstica, muitas vezes são descobertos tardiamente. Além dos aspectos
clínicos, a dermatoscopia pode nos auxiliar na suspeita e diferenciação do
melanoma de outros diagnósticos.
Quais os fatores de riscos que
podem influenciar no aparecimento do melanoma?
Entre os
principais fatores podemos destacar: pele clara e sensível ao sol, que se
queima com facilidade; cabelos loiros ou ruivos, olhos azuis ou
verdes; existência de muitas pintas espalhadas pelo corpo (100 ou
mais); pintas com formatos incomuns ou irregulares, geralmente em tamanho
maior; histórico de exposição excessiva ao sol ou utilização de
bronzeamento artificial; existência de casos de melanoma na
família; ocorrência prévia de melanoma e ter 50 anos ou mais.
Quais os sintomas de um
melanoma? Como diagnosticar?
Mudanças de
cor, formato ou tamanho de uma pinta podem ser indícios de melanoma –
normalmente, a neoplasia começa a se desenvolver nessa região. Outras mudanças
que podem sinalizar o aparecimento da doença são pintas que sangram, doem ou
coçam. No entanto, nem todos os melanomas se desenvolvem em ou próximos a uma pinta
já existente. Em alguns casos, a doença aparece repentinamente na pele sadia.
Portanto, é preciso ficar atento ao surgimento de pintas ou manchas.
Existe um perfil de quem é mais
propenso a desenvolver o melanoma?
A exposição
excessiva à radiação ultravioleta, ao ar livre ou em câmaras de bronzeamento, e
qualquer histórico de queimaduras solares têm papel importante no
desenvolvimento do melanoma, principalmente em pessoas de pele clara.
Entretanto, nem todos os melanomas são decorrentes da radiação UV. Embora a
maior parte desenvolva-se em áreas expostas do corpo, alguns casos da neoplasia
podem ocorrer em regiões “cobertas”.
O melanoma é mais frequente que
outros tipos de câncer? Por que é o mais letal?
O melanoma é
menos frequente que outros tumores cutâneos, representando apenas 4% dos casos.
O fundamental é o diagnóstico precoce, pois os melanomas quando diagnosticados
tardiamente apresentam altos índices de metástases, tanto linfonodal quanto por
via hematogênica.
Quais os tratamentos mais
indicados?
O tratamento
varia conforme as condições de saúde do paciente, localização, agressividade e
extensão do tumor. O tratamento de escolha ainda é a cirurgia, e podem
ser empregadas as seguintes técnicas:
-Cirurgia excisional: exerese total do tumor com margens cirúrgicas de
segurança, segundo protocolos internacionais orientados pela espessura de
Breslow; em certas circunstâncias pode ser indicada a amputação de um dedo do
pé ou da mão;
- Alguns cirurgiões preconizam a cirurgia micrográfica, em que se retira
o tumor e, em seguida, remove uma fina camada de tecido das margens laterais e
profundas, que serão submetidas a um exame. O paciente aguarda enquanto estes
fragmentos são processados por exame de congelação e examinados ao microscópio.
Se houver alguma margem comprometida, é feita uma nova retirada de tecido das
margens, até que todas elas estejam negativas. É um procedimento indicado para
lesões recidivantes, ou seja, que foram tratadas e retornaram;
- Discute-se a indicação da pesquisa do linfonodo sentinela e, se houver o
comprometimento linfonodal, faz-se a linfadenectomia.
Dependendo do estágio do câncer, a quimioterapia, radioterapia e imunoterapia
são outras modalidades terapêuticas que podem ser empregadas. Nos casos em que
há metástases, a neoplasia não tem cura na maioria das vezes, mas existem
diversas estratégias que permitem melhorar a qualidade de vida do paciente.
Uma pessoa que já fez o
tratamento tem possibilidade de desenvolver novamente o melanoma? Por quê?
Existe a
possibilidade de um mesmo individuo, devido aos seus fatores de risco, vir a
desenvolver um novo melanoma, e há a possibilidade de recidiva ou de
metástases. Por esta razão é de fundamental importância o acompanhamento do
paciente por anos, com consultas regulares e solicitação de exames
complementares, tais como DHL, radiografia do tórax, ultrassom abdominal e
outros, a depender do estádio deste paciente. Orientações sobre o auto-exame da
pele e fotoproteção são indispensáveis.