Uma
análise inédita, realizada pelo A.C.Camargo Cancer Center, identificou chance
de sobrevida global superior à de 50% (podendo chegar até 84% se detectado
cedo) em cinco anos para pacientes com câncer gástrico tratados na instituição
nos últimos 20 anos. Isso significa um aumento de mais de 100% se compararmos
as mesmas estatísticas no começo do século. O dado do Observatório do Câncer
reforça a importância do diagnóstico precoce, acesso a tratamentos oncológicos
modernos e de campanhas de conscientização, como o Dia Mundial da Saúde
Digestiva, instituído em 29 de maio.
A
pesquisa avaliou mil casos de adenocarcinoma gástrico. Conforme o líder do
Centro de Referência em Tumores do Aparelho Digestivo Alto, Dr. Felipe Coimbra,
o resultado é uma excelente notícia para o tratamento dos pacientes com esses
tumores no Brasil. "Há 20 anos, o paciente tinha a chance de sobrevida em
torno de 25%. Se o mesmo paciente passasse hoje para tratamento com nossa
equipe ele teria uma chance de mais de 100% em comparação ao ano de 2000",
explica.
Entre
os principais motivos para esse aumento, o especialista aponta os avanços em
tratamento multidisciplinar e a inovação, como o uso de tratamentos
quimioterápicos antes e após a cirurgia, protocolos de recuperação precoce e a
implementação da cirurgia minimamente invasiva laparoscópica e robótica.
Atualmente, mais de 80% dos casos são operados por vias menos invasivas.
Um
outro ponto fundamental foi o trabalho interdisciplinar. "Tivemos uma
melhoria da estrutura de reuniões multidisciplinares, chamadas de tumor
boards, onde casos de alta complexidade e que necessitam expertise de
vários grupos ao mesmo tempo são discutidos com alta resolução", completa
Coimbra.
Para
contribuir com o aumento da sobrevida, o vice-líder do Centro de Referência em Tumores do Aparelho
Digestivo Alto, Dr. Tiago Felismino, completa que o diagnóstico precoce é
essencial. "O rápido reconhecimento dos sintomas e a realização de uma
endoscopia digestiva alta são imprescindíveis. As novas estratégias de
tratamento, como imunoterapia e terapia-alvo têm gradativamente melhorado a
sobrevida dos pacientes com doença mais avançada", destaca.
Por
fim, o Dr. Felipe Coimbra reforça a importância das pesquisas clínicas, que
viabilizam o conhecimento e novas possibilidades em benefício dos pacientes no
futuro. Ao todo, já foram realizados 150 estudos, nos últimos 20 anos, no
A.C.Camargo Cancer Center. Todos os ensaios clínicos podem ser encontrados
no site da instituição.
Cenário
atual do câncer gástrico
Ainda
segundo o Observatório do Câncer, o número de casos de câncer do aparelho
digestivo alto ultrapassou os de pulmão, ginecológicos e colorretais, nos
últimos 20 anos. Ao todo, o A.C.Camargo registrou 2.416 casos de câncer de
estômago entre o período de 2000 a 2020.
Em
um cenário geral, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta que são
esperados, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, cerca de 21 mil novos casos
no Brasil. Segundo o órgão, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o
câncer de estômago é a quarto mais comum nos homens e o sexto nas mulheres,
dentre os tipos de câncer mais frequentes no país.
Principais sintomas
Os sintomas do câncer de estômago costumam ser inespecíficos no início e
parecer um quadro simples de gastrite, o que faz com que muitas pessoas demorem
a procurar um médico e só sejam diagnosticadas em estágios mais avançados da
doença.
- Dor
de estômago
- Azia
e má digestão
- Sensação
de empachamento mesmo comendo pouco
- Dificuldade
para engolir e refluxo (nos casos de tumores na parte mais alta do
estômago)
- Inchaço
no abdome
- Náusea
e vômitos
- Perda
de apetite
- Diarreia
ou prisão de ventre
- Perda
de peso inexplicável
FATORES
DE RISCO
Alguns fatores aumentam o risco de desenvolver câncer, mas isso não quer
dizer que necessariamente a pessoa vai ter câncer de estômago.
Infecção
por Heliobacter pylori: aquela sensação de queimação no estômago merece uma visita ao médico.
O consumo constante e indiscriminado de remédios para azia e má digestão pode
mascarar essa infecção.
Consumo excessivo de sal: conservas, defumados e carnes
salgadas para serem preservadas também estão na lista dos fatores de risco. Os
países com maior incidência desse tipo de câncer consomem largamente esses
produtos.
Fumo: estudos indicam que fumantes têm o dobro do risco
de ter câncer de estômago que os não fumantes. O consumo excessivo de álcool
também aparece como fator de risco.
Sexo: a doença é mais comum em homens do que em
mulheres.
Idade: o câncer de estômago costuma aparecer em pessoas
com mais de 55 anos.
Síndromes familiais de câncer também estão associadas ao aparecimento do
câncer de estômago. Portadores de síndrome de Li-Fraumeni, de câncer colorretal
não poliposo (HNPCC) e de câncer gástrico familial também correm maior risco de
apresentar esse câncer.
Tratamento
O único tratamento curativo do câncer gástrico é a cirurgia. Tumores
extremamente precoces podem ser removidos por endoscopia. Os demais pacientes
são candidatos a uma gastrectomia (cirurgia para retirada do tumor do
estômago), que pode ser total, em que todo o estômago é removido, ou parcial,
em que uma parte do órgão é preservada.
No A.C.Camargo Cancer Center, esse procedimento pode ser
feito por cirurgia robótica, que é mais precisa e permite que o paciente se
recupere e tenha alta em menos tempo, por laparoscopia ou ainda por cirurgia
convencional, aberta. Se o estômago todo precisar ser removido, durante a
cirurgia é feita uma conexão do esôfago com o intestino delgado, para que o
paciente possa se alimentar. Para se adaptar a essa nova situação, o principal
é fracionar a alimentação em várias vezes e pequenas quantidades de cada vez.
Também pode ser necessário ingerir suplementos de vitaminas.
A cirurgia é feita por cirurgiões especializados e com o esquema correto de
quimioterapia e/ou radioterapia, entre 60% e 70% dos pacientes com doença
localizada ou regional tratados são curados.
É importante destacar que temos resultados excelentes no tratamento do câncer
de estômago, comparáveis aos registrados no Japão e na Coreia, países que têm
os melhores resultados do mundo.
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