Diferentes
situações podem levar uma pessoa a ter vontade de doce, em menor ou maior grau.
Os motivos podem ir desde um hábito do cotidiano até distúrbios mais sérios,
como uma hipoglicemia, quando o corpo está com baixa concentração de glicose no
sangue. É preciso atenção com o controle desse consumo, pois assim como
acontece com qualquer outro nutriente, o excesso pode causar anormalidades na
saúde.
O
consumo de carboidratos, como é o caso do açúcar, aumenta a absorção de
triptofano, um aminoácido essencial utilizado pelo cérebro para produzir a
serotonina, um neurotransmissor que interfere em algumas funções: o início do
sono, sensibilidade à dor e controle do humor. O prazer também pode ser citado
como motivo, já que a liberação da serotonina é responsável ainda pela sensação
de bem-estar.
“Muitas
pessoas acabam excedendo o consumo de carboidratos para se sentirem melhor
quando expostas a diversas situações: estresse, no caso de mulheres com
síndrome pré-menstrual, pacientes com “depressão sazonal”, indivíduos que estão
tentando parar ou que pararam de fumar, entre outros casos”, explica o
endocrinologista e responsável pelo Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do
Hospital das Clínicas da USP, dr. Marcio Mancini.
Outras
explicações para a vontade de comer doces podem ser as alterações genéticas e o
hábito. De acordo com o especialista, diferenças genéticas nos receptores de
sabor amargo, gorduroso ou doce nas papilas gustativas da língua podem fazer
com que indivíduos já nasçam com maior preferência por alimentos doces.
Já
o hábito vem da preferência do brasileiro por alimentos adocicados, disseminado
desde os tempos do Império, quando o Brasil se tornou o maior produtor de
cana-de-açúcar do mundo. Além disso, momentos com sobremesas são normalmente
celebrações positivas, resgatando a relação do ingrediente com satisfação e
bons eventos.
Porém,
quando a vontade por produtos açucarados é constante é preciso tomar cuidado,
pois pode ser um sinal de compulsão alimentar. O transtorno da compulsão
alimentar periódica (TCAP) é uma doença psiquiátrica caracterizada por
episódios descontrolados de alimentação, que acontecem pelo menos uma vez por
semana durante três meses. O problema é definido pela recorrência na ingestão
de certo alimento num curto período de tempo. Nessas situações a pessoa não tem
controle sobre o que come e pode consumir alimentos doces e em seguida
salgados, depois doces novamente. É uma doença.
Comportamentos
compulsivos podem ser causados, entre outros motivos, pela privação de
alimentos, como muitas vezes acontece com os doces. Neste caso, as dietas muito
restritivas que pregam a eliminação do carboidrato, por exemplo, podem causar
comportamentos compulsivos. “O ideal é que nenhum alimento seja eliminado do
cardápio e que a alimentação seja equilibrada, a não ser que exista uma razão
médica”, diz o dr. Marcio.
Assim,
é melhor comer um doce quando se tem vontade do que tentar enganar o organismo
com outras opções consideradas mais saudáveis, sugere o cardiologista e
nutrólogo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, dr. Daniel Magnoni.
O açúcar
vicia?
Para
o dr. Marcio Mancini, utilizar a palavra vício para comida não é um conceito
correto. “Precisamos de comida para sobreviver e do carboidrato para dar
energia ao corpo. Eliminar um nutriente é irreal. Alguns estudos mostram que o
cérebro responde ao açúcar de maneira similar como algumas drogas, mas isso
acontece porque o ingrediente ativa os centros cerebrais de prazer e
recompensa, o que não significa um vício”, explica o endocrinologista.
Ele
ainda reforça que a definição de vício é a dependência física, que faz alguém
buscar o consumo excessivo e cada vez maior, crescente, de uma substância para
conseguir o mesmo prazer e satisfação. Isso não se observa com o açúcar. Não
existe síndrome de abstinência quando se interrompe o consumo.
Um
estudo conduzido pelo dr. John Menzies, da Universidade de Edimburgo, corrobora
a afirmação do especialista ao comprovar que as pessoas podem ficar viciadas no
ato de comer, porém não em alimentos específicos, como doces ou hambúrgueres.
Nesse sentido, é preciso estar atendo às quantidades ingeridas do alimento e
caso perceba um descontrole, o ideal é procurar o auxílio de um nutricionista
ou de um médico especialista.