Transtornos de ansiedade antecedem,
sucedem ou coexistem com a depressão em até 70% dos pacientes, de acordo com
estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 1990 e 2013, o número
de pessoas depressivas e ansiosas aumentou quase 50%, chegando a um número
atual de cerca de 615 milhões de pessoas afetadas pelas duas doenças. Por isso,
é importante avançar na compreensão da relação entre as enfermidades e adotar
estratégias de tratamento que contemplem ambas as condições.
“Muitas vezes, tratar os transtornos
de ansiedade é uma forma de prevenir a própria depressão", diz o
psiquiatra Kalil Duailibi, diretor científico de Psiquiatria da Associação
Paulista de Medicina (APM). Juntas, depressão e ansiedade custam à economia
global, anualmente, cerca de US$ 1 trilhão, segundo um relatório produzido pela
OMS em parceria com o Banco Mundial e divulgado neste ano.
De acordo com o médico, as doenças
fazem parte de um círculo vicioso que inclui também estresse e insônia. “Isso
ocorre porque, em geral, os mecanismos que envolvem a regulação do humor, do
ciclo de sono e da resposta de estresse estão relacionados à ação de um mesmo
neurotransmissor, a noradrenalina. Então, ocorrem efeitos em cascata, que no
início se manifestam como ansiedade e, depois, como depressão”, completa.
Sequelas irreversíveis
A depressão, quando não tratada
adequadamente, pode trazer consequências graves e sequelas importantes, como a
diminuição do número de células nervosas e, com o passar do tempo, do volume de
algumas regiões cerebrais de modo irreversível, levando a déficits cognitivos
significativos, ou até mesmo, tentativas de tirar a própria vida. A doença
também prejudica o tratamento de outras enfermidades das quais o paciente seja
portador e pode piorar a evolução desses quadros, em razão da desesperança e da
autoestima fragilizada dessas pessoas.
Sob o aspecto social, a depressão
pode provocar prejuízos no trabalho, na vida familiar e afetiva. Mas a boa
notícia é que a evolução no entendimento da doença e o conhecimento cada vez
mais aprofundado das outras condições associadas a ela têm possibilitado o desenvolvimento
de tratamentos cada vez mais modernos, eficazes e seguros, como os
antidepressivos de 3ª geração, que apresentam uma ação dual.
Segundo o especialista, adotar uma
dupla abordagem, contemplando os medicamentos antidepressivos e também a
psicoterapia, é uma estratégia fundamental para recuperar a funcionalidade do
paciente, restaurando sua capacidade plena de atuação e ampliando sua qualidade
de vida.