Uma experiência de imersão para detoxificação do
corpo, da mente e da alma chamada de Panchakarma. É a chamada medicina
Ayurvédica, conhecida também como medicina dos Vedas, esta talvez tenha sido a
mãe de todas as medicinas ou sistemas de saúde, e abriga conhecimentos
integrativos resgatados nos dias de hoje. A médica e pesquisadora Ana Carolina
Rocha, professora de cosmiatria desde 2005, doutoranda e palestrante
internacional explica mais sobre isso.
Considerada uma medicina milenar pré-ciência
iniciada há cerca de 6 mil anos, ela hoje se respalda cientificamente e apoia a
medicina alopática com tratamentos fitoterápicos eficazes e que buscam o
reequilíbrio e vai muito além de uma proposta de cura pessoal a partir da boa
alimentação e da fitoterapia.
A Ayurveda é uma filosofia de vida. Ela se
assemelha à vida de um yogue, que busca o auto-cuidado regular, exercícios para
o corpo, a mente e o espírito (meditação), horários de atividade de acordo com
o nosso ciclo circadiano, ponderação e a prática da não-violência.
Ayurveda é a medicina milenar da índia, onde o
autocuidado e a cura acontecem de forma natural. Na ayurveda a alimentação
também é divida em três aspectos, gunas: Sattva, Rajas e Tamas. Esses gunas
estão presentes em cada um de nós e nos alimentos, e por esse motivo podem ser
enfatizados ou reduzidos com base no consumo de certos alimentos. Dada a
natureza mutável do ser humano, os gunas também mudam constantemente e é
possível que um dos três domine os demais em um determinado período da vida.
A Ayurveda foi a primeira medicina a revelar a
importância da flora intestinal para todos os nossos sistemas e como o nosso
trato digestivo se relaciona com o cérebro. Muitos estudos recentes, assim como
um deste ano (sobre a capacidade do intestino de modular uma neuroproteção
(defendendo ou prejudicando o tecido cerebral) demonstram esta relação
intestino e cérebro que a Ayurveda tanto aborda. Segundo ela, a maioria das
nossas doenças têm origem em toxinas alimentares que afetam nossa flora
intestinal (disbiose), e depois afetam outros órgãos e sistemas, como o cérebro
(afetando o humor e predispondo a doenças neurodegenerativas, por exemplo).
Para melhorar isso, ela trata o indivíduo
individualmente através de métodos de detoxificação com ghee e ervas medicinais
(pelas vias excretórias), e, depois desta limpeza, uma dieta leve, com muitos
vegetais frescos e orgânicos, muito chá, morno ou quente, e diversas
especiarias de ação digestiva. Ela também propõe evitar alimentos incompatíveis
(que fazem estas toxinas, ou "ama", se acumularem no organismo,
"colarem" no trato digestivo e outros órgãos, dificultando a digestão
e causando empazinamento, distensão e outros sintomas, a princípio). A dieta
"anti-ama" ou preventiva destas toxinas, é, aos olhos da medicina
integrativa, conhecida como uma modulação epigenética, parte do estudo da
Genômica Nutricional.
De acordo com a Ayurveda, somos vistos como um
todo, mente, corpo e alma, e em constante interação com a natureza e as
estações do ano. Portanto, a dieta que comemos em uma estação deve ser
diferente das demais, e a dieta de um indivíduo nunca será igual ao de outro.
Além disso, nunca se deve comer a mesma coisa sempre, pois o que te faz bem
hoje pode fazer mal amanhã, e vice-versa. Outra verdade pregada pela Ayurveda é
que a diferença entre o remédio e o veneno está apenas na dosagem (Paracelso -
Médico do século XVI).
Com cursos de fitoterapia ayurvédica e alimentação
funcional segundo a Ayurveda, a médica dra. Ana Carolina, com formação,
mestrado e doutorado (em curso) na área de dermatologia, conta que mudou a sua
vida após adquirir conhecimentos desta área médica fitoterápica, e explica como
a mesma a auxilia também nos tratamentos de seus pacientes.
"A visão diagnóstica da ayurveda é bem mais
ampla que a alopática, e nos auxilia em casos complexos, quando pacientes não
respondem a um tratamento ou possuem um quadro inflamatório crônico, e precisam
reduzir o número de medicamentos em uso. Temos precisado muito de uma visão
holística e integrada nos dias de hoje, em que as pessoas estão estressadas,
ansiosas, fadigadas, impacientes, "doentes da alma", com ritmos de
vida totalmente diferentes daquele ideal, de acordo com o nosso ciclo circadiano
e hormonal (que vai de encontro à presença ou ausência da luz solar)",
explica.
Ela conta que a Ayurveda auxiliou sua compreensão
do paciente quando diante de questões como alergias e urticárias crônicas, a
partir da visão dos doshas (tipo de "temperamento" de cada indivíduo,
segundo este sistema de saúde) e também dos gunas (as três
"tendências" - sattva, rajas e tamas - que caracterizam um
comportamento ou estado mental, que pode ser mais proativo, mais relapso,
instável ou até depressivo).
"Como estamos em constante transição de
momentos, etapas pessoais e profissionais, estações do ano etc, estas
influências comportamentais se alteram ou se desequilibram, trazendo alguns
transtornos ao paciente, como irritabilidade, insônia, perda de memória,
alterações do humor e síndromes disabsortivas (dentre outros) que alteram a
qualidade de vida do paciente. Com esta compreensão ampliada, conseguimos
prever o comportamento do paciente quanto ao uso das prescrições a partir dos
"doshas", pois alguns são tipicamente indisciplinados para seguirem
(ou não) uma rotina de medicamentos e cuidados".
Se a médica já sabe que aquele paciente é Kapha
(elemento terra), ele tende a não ter disciplina no tratamento homecare, e é
melhor partir para procedimentos no consultório, e destes com menos necessidade
de regularidade de sessões. Este paciente também tende a reter liquidos, com
maior chance de ter celulite (mulheres), gordura localizada e sobrepeso.
Suplementos e chás à base de gengibre e ativos de ação digestiva são
recomendados para estes pacientes.
Alguns pacientes, por exemplo os Vata, tendem a ter
a pele, cabelos e unhas mais secos que os demais, e são mais refratários aos
tratamentos convencionais. Precisam de fitocosméticos mais gordurosos e
pesados, como manteigas vegetais (e o ghee se torna um ótimo aliado para eles,
tanto nos alimentos quanto em cremes manipulados individualmente). Sendo ele os
elementos éter e ar, também pode sofrer com inchaço, e fitoterápicos
adaptógenos (que auxiliam na resposta do organismo ao estresse) são excelentes
auxiliares na sua qualidade de vida e bem-estar.
"Este tipo de paciente também tende a sofrer
mais com gases, edema, constipações (segundo a medicina indiana, por excesso do
ar em seus sistemas). Por outro lado, quem é Pitta (elementos fogo e água) tem
um estilo de vida dinâmico, com muitos horários pré-determinados, gosta de se
programar, mas costuma ter mais risco de ter gastrite, refluxo, irritações
intestinais e questões inflamatórias crônicas. Na medicina integrativa é visto
como um "paciente inflamado". Estes pacientes merecem uma atenção
especial quanto à inflamação para o resto da vida, lançando mão de alimentos ou
suplementos contendo cúrcuma, hortelã, camomila", fala.
Em tempos em que todos buscam acolhimento, esta
milenar medicina ainda prega as massagens regulares com óleos. Elas, associadas
ao yoga e alimentos digestivos, auxiliam muito nos gases e prisão de ventre.
Pode ser uma auto-massagem ou uma massagem profissional, e os óleos podem ser
aqueles indicados para o seu dosha, que, uma vez equilibrado, alivia seu
estresse e promove bem-estar. O óleo podem ser uma combinação de gergelim com
tais ervas medicinais, ou um óleo pronto ou manipulado para aliviar o
desequilíbrio dos seus doshas. Muitas vezes são usados patchuli, hortelã-pimenta,
gengibre, sândalo, alecrim, anis, cardamomo, laranja doce e laranja amarga
(esta é muito empregada na dermatologia de uso oral e tópico, para tratar
gordura localizada e celulite. As massagens nos reconectam com o nosso corpo,
assim como o yoga, promovendo grande bem-estar.
Interessante como a ayurveda ressurge científica e
oportunisticamente, também com a busca atual das pessoas por tratamentos
naturais e alimentação orgânica, vegetariana ou vegana. Ela advoga por um
tratamento holístico integrado, que complementa a medicina alopática em
diversos aspectos. Com o auxílio da fitoterapia (que a Dra.. Já emprega em seus
tratamentos há 20 anos, combinado com nanotecnologia), o diagnóstico auxiliar
dos doshas e uma percepção mais ampla do que o paciente necessita de acordo com
seu estilo de vida e estação do ano, o tratamento fica mais completo e a chance
de o paciente não aderir ao tratamento reduz incrivelmente.
Na ciência Ayurveda, repleta de estudos científicos
na atualidade, a nossa alimentação interfere na saúde da pele. Percebemos que
um organismo inflamado e com muitas toxinas tende a ter mais melasma, hidra.denite,
foliculite e acne, por exemplo (assim como a medicina alopática convencional).
Mas há vezes em que o tratamento da medicina alopática sozinho não consegue
eliminar estes problemas recorrentes, e uma terapia ayurvédica associada pode
ajudar a detoxificar o organismo, desinflamar o paciente e melhorar enormemente
a pele. Para o melasma, chá verde, açafrão, alcaçuz e o ativo indiano Masoor
dal são ótimos aliados. E, assim como estes, outros ativos formidáveis ampliam
nosso arsenal terapêutico, seja via oral ou tópica, promovendo bem-estar e
aliviando o estresse do paciente, melhorando resultados clínicos.
Segundo a Ayurveda "a gente não é o que a
gente come, mas o que a gente digere", o que nos faz refletir se estamos
mesmo com saúde plena, absorvendo todos os nutrientes que recebemos dos
alimentos, ou se estamos acumulando toxinas no organismo... O que irá nos fazer
apresentar sintomas digestivos, e até sistêmicos, em algum momento da vida,
conforme nossa propensão invidiual e o estilo de vida (sobretudo alimentar e de
sono) que estamos levando.
A Ayurveda se baseia nos ensinamentos milenares dos
espirituais védicos. O nome vem do Sânscrito Ayur = Vida e Veda = Conhecimento
ou Verdade. É o conhecimento que permite viver em harmonia, para preservar a
vida, com longevidade. É interessante observar o quão bem cuidadas e
rejuvenescidas as pessoas seguidoras deste estilo de vida são.
Para dra. Ana, a Ayurveda, inclusive, possui vários
tratamentos de regeneração celular que têm ação rejuvenescedora comprovada.
"É mais que um ramo da ciência médica, mas um estilo de vida, uma forma de
se viver integrado e em harmonia com a natureza, onde a saúde significa
equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Seus tratamentos permitem a
eliminação de toxinas do corpo e da mente, promovem o rejuvenescimento do
organismo e do fortalecimento do sistema imunológico", finaliza.